15.6.08

Amélie e Grushenka

Eu tenho gastrite nervosa. Quando meu querido estrombo queima, boa coisa não está acontecendo comigo.

Pedi uma semana de arrego no meu estágio pra me dedicar à monografia. Percebi que não é simples assim. As palavras ficam presas e há uma autopressão que me empaca. Mas pelo menos achei a causa do fogo em minha barriga.

Não. Antes fosse.

Ontem (re)vi Le fabuleux destin d'Amélie Poulain. Se antes eu achava o filme fofo, inocente, com uma fotografia e um roteiro maravilhosos, ontem ele me fez chorar. Expulsar todas as lágrimas. Praticamente me matou.

A culpa é da cena final (se você ainda não viu o filme, esqueça esse post).



Por que diabos uma coisa tão simples como andar de moto com o boff me deixou tão derrubada, se há outras cenas mais fortes no filme?

Porque não consigo mais agüentar, internet tem sido pouco pra mim. Aquelas 32 horas foram a cena mais bonita do meu filme, mas foram apenas 32 horas. Saudade eu tenho das coisas comuns que todos os outros fazem, como sair juntos, andar de bicicleta juntos, ir ao cinema, fazer carinho, falar besteira, ir pra cama... Assim como a cena final de Amélie, o Atlântico também está me matando, enquanto faço tudo pra não me afogar.

Eu já tinha sido morta antes, assassinada com requintes de frieza e crueldade. Mas ressuscitei como fazem os fortes e fui agraciada, apesar de ter ficado uma cicatriz da facada em meu coração de estátua. Vez ou outra, a cicatriz lateja, como faz meu estômago agora, desesperado pra vomitar algo muito fétido que se apossou das minhas entranhas.

Posso dizer que me transformei na Grushenka, de Irmãos Karamazovi (melhor livro do Dostoievski). Depois de algumas porradas e um coração falecido, ela encontrou o Dmitri, pra depois ter que se afastar. Injusto o destino, parece que a paz de espírito e o amor estão sempre te provando, testando teus limites, pra saber se você é merecedora das coisas normais que todos os outros fazem.

Eu só sei que cansei da gastrite e quero uma vida normal, sem mágoas, sem lembranças da morte anterior e com todos os passeios de moto a que tenho (temos!) direito.
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Quando tocarei em você de novo, Dmitri?

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