29.9.08

Zhivago


Noite de insônia braba, a de ontem. Sem ter muita escolha, fui deitar e resolvi zapear pra ver se encontrava um programa dygno pra embalar meu soninho. Show do Metallica (eu costumava gostar, mas hoje em dia é peso demais pra moi) na MTV definitivamente não é coisa pra fazer boi dormir, então coloquei no Futura. Opa, ia passar um filme obscurozinho, Doutor Zhivago (Доктор Живаго,leia "Jivago"), adaptação do livro homônimo - que eu ainda não li - de Boris Pasternak. Não era o clássico de 1965, mas me parecia uma boa produção para TV. E quando vi o boffyescândalo que interpreta o papel-título, me perguntei qual a utilidade do sono e encarei o filme madruga adentro.

A história se passa na (mãe) Rússia revolucionária e, entre invernos congelantes e atrocidades cometidas por bolcheviques e mencheviques, o médico Yury Andreievitch Zhivago tenta levar uma vida tranqüila, mudando-se de Moscou pra uma cidadezinha nos Urais com a amada esposa Tonya, o filho e o sogro. Mas é lá que ele reencontra Lara, seu grande amor do passado, e os dois passam a viver um romance paralelo. Muitos encontros e desencontros - provocados pela situação de guerra em que a Rússia se encontrava então - depois, Zhivago perde a esposa e a amante. Durante a película, fica a impressão de que ele realmente ama as duas, de que seu coração é dividido em partes iguais para elas

Depois que o filme acabou, me peguei pensando que existem mais Zhivagos do que julga a nossa vã filosofia. Em algum momento da vida, podemos amar mais de uma pessoa de forma igual, e querer uma ou outra ou até ambas (ou mais) ao mesmo tempo. E ninguém é piranha, vadia, cafajeste ou galinha por conta disso, simplesmente acontece. A quantidade de pessoas lindas, maravilhosas, gostosas, especiais, perfeitas e irrecusáveis que cruzam com a gente pode ser maior do que a adequada pra essa sociedade monogâmica...

Não creio que culpa seja a melhor saída, já que você não vendeu os direitos dos seus sentimentos pra pessoa que você namora/é casado/noivo/enrolado/enroscado com. E, já que vivemos, pelo menos oficialmente, em um sistema um-pra-um, nos é pedido pra escolher entre um/a e outro/a pra "não magoarmos ninguém" e porque "só dá pra amar MESMO uma pessoa". É o que manda a ética monogâmica.

Seja quem for o/a "escolhido/a", alguém vai sair da história machucado. Não seria melhor se você pudesse ficar com todas as pessoas que você ama e que ele/a pudesse fazer o mesmo? Pensando bem, eu queria que o Dr. Zhivago encontrasse a esposa e a amante e todos vivessem felizes para sempre naquela casa perto dos Urais. Se soubessem driblar o ciúme (sim, ele infelizmente existe), evitar-se-ia muita tristeza.

Mas, como disse o melhor amigo do doutor, "não se pode fazer uma mulher feliz com metade do seu amor". Então, só resta à sociedade desejar uma morte dolorosa e solitária a todos os Zhivagos pelo bem do "amor inteiro"! 
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* De acordo com minhas fontes, o nome Zhivago tem o mesmo radical da palavra "zhiv" (жизнь), que significa "vida" em russo. BloddyMari também é cultura, oh my brothers and only friends.
* Desculpem pela marca d'água uwó do Istock na foto. Não achei outra imagem melhor pra ilustrar o tema do post, e não tive como tirar a maldita no meu photoshop que não abre mais.

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